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Terrorismo Apocalíptico

Gostaria muito de saber quando isso começou. Creio que desde que o mundo é mundo e o homem se deu conta de sua individualidade, a luta pela sobrevivência instaurou no inconsciente coletivo a lei do mais forte, o poder imposto pelo medo e pela força, o subjugar para não ser subjugado. No reino animal essa é a realidade. Até os gatinhos domésticos defendem seu território ao sentirem a presença de intrusos. O desenvolvimento da razão não foi suficiente para alijar de nosso inconsciente a idéia de que as ameaças são a única formas de controlar o comportamento humano. As religiões através dos séculos têm usado e abusado da fórmula “medo-dor-punição ou salvação”. Fomos criados sob a imagem de um Deus cruel, vingativo, implacável com nossos erros e que pode, a qualquer momento, nos exterminar. O impacto do terror, se por um lado paralisa de medo os mais frágeis, pode provocar nos ousados uma rebeldia que conduz ao desafio: vão negar a existência de Deus ou vão se atirar aos desregramentos com a idéia de “perdido por cem, perdido por mil”, ou seja, já que não consigo ser perfeito e vou ser punido mesmo, para que me preocupar em melhorar? É a certeza do aluno reprovado, que não se esforça porque não acredita que possa se recuperar. Uma das formas mais presentes desse terrorismo espiritual é a coletânea de interpretações catastróficas do apocalipse. Agora até pela internet circulam as ameças de grandes punições divinas aos desregramentos da humanidade. É claro que não podemos negar que a humanidade está longe de ter um comportamento compatível com os ensinamentos dos grandes avatares como Jesus, Buda, Krishna, entre outros. Porém, se ameaçar adiantasse, a situação já estaria diferente. Preocupam-me as mensagens que divulgam profecias, como o segredo de Fátima, enfatizando tragédias, terremotos, guerras, doenças. Os comentários do tipo “se você está com Deus, é puro, age dentro da Lei, nada tem a temer” não aliviam em nada o efeito negativo. Quem de nós pode, em sã consciência, dizer que não guarda um remorso, uma culpa, e que não tem certeza se realmente merece a salvação? Pois se fomos todos condicionados a nos chamar de imperfeitos, indignos, nascidos em pecado!... Concentremos nossa atenção nos ensinamentos que as profecias trazem. Há, em todas elas, uma exortação à retomada da consciência divina em nós. Todas dizem que se a humanidade repensar suas atitudes, buscar a fraternidade, vencer os preconceitos, aprender a perdoar, muitas das catástrofes anunciadas serão evitadas. Compreender que podemos melhorar é aceitar que podemos participar da salvação da humanidade. Chega de pensar “no mal que pode acontecer”, pois concentrando a atenção nisso, fortalecemos a egrégora destrutiva do medo. Vamos nos empenhar “no bem que podemos fazer aqui e agora”, melhorando nossos relacionamentos, perdoando, abrindo mão da crítica, da maledicência e, mais do que nunca, orando e vigiando nossos pensamentos, palavras e atitudes. O homem consciente é filho do Deus de Amor e Bondade, e caminha confiante para um futuro melhor. Maria Lúcia Araújo